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A morte anunciada da arte

Na esfera da expressão artística, o movimento woke impõe-se como ditador da criatividade, enquanto asfixia a autenticidade e, consequentemente, mata a arte.

Nos últimos anos, existe uma persistência por parte dos wokes em eliminarem da superfície do planeta qualquer indivíduo que se oponha às suas ideias, que não defenda as suas perspectivas ou que desenvolva apreço por algo - considerado por eles - “hostil”.

No âmbito da arte, o cenário é idêntico. O movimento woke exerce uma fiscalização para determinar se as obras artísticas são ou não corretas, se são ou não dignas de serem apreciadas, e a indústria com medo de ser “cancelada” entra numa viagem de pura censura e cobardia.

No universo da literatura, após a reedição dos livros de Roald Dahl, criador da obra “Charlie e a Fábrica de Chocolate” e Ian Fleming, autor da saga de James Bond, também a obra de Agatha Christie foi alvo de policiamento pelos apelidados “leitores de sensibilidade”. O objetivo é claro, passa por alterar ou remover passagens dos livros que contenham termos potencialmente prejudiciais. Alguns exemplos são as palavras “nigger”, “nativo” e “oriental”, que foram alteradas ou integralmente apagadas.

“Apagadas” é realmente a palavra que melhor parece descrever esta expurgação da literatura. Ao reescrevermos livros estamos a apagar o direito do artista em manter a sua obra original, estamos a apagar o contexto em que os livros foram escritos e estamos a apagar a cultura. Todavia, esta limpeza dos pecados humanos não se contenta apenas com o mundo dos livros. Consideremos ainda um caso na indústria cinematográfica. A Disney anunciou um remake do filme “A Branca de Neve e os Sete Anões”, mas com novas particularidades.

A atriz que irá interpretar a protagonista é Rachel Zegler que, ao contrário do que seria expectável, não é branca como a neve e os sete anões serão abordados de “outra maneira”. Após várias críticas provenientes dos “politicamente corretos”, a Disney coloca a possibilidade de substituir os anões ou alterar a narrativa destas sete personagens “para evitar reforçar os estereótipos”, como assinala o porta-voz da companhia. E é, precisamente, neste último ponto, que eu encontro uma das maiores incoerências destes movimentos de justiça social: apelam à representatividade, mas quando têm oportunidade de serem representados, reclamam.

O movimento woke exerce uma fiscalização para determinar se as obras artísticas são ou não corretas, se são ou não dignas de serem apreciadas e a indústria com medo de ser “cancelada” entra numa viagem de pura censura e cobardia.

Afinal, a inclusão apenas é bem aceite se estiver dentro dos parâmetros destes indivíduos puros. Depois de alguma reflexão, “Uma Mulher e os seus Sete Amigos Politicamente Corretos” penso que seja o título mais adequado.

Em suma, gostaria de pedir aos criativos que não reformulem a arte e que façam o que lhes compete: criar coisas novas. Gostaria ainda de apelar para que não seja feita arte politicamente correta, até porque isso representa uma castração da criatividade, um obstáculo à liberdade de expressão e, principalmente, um enorme aborrecimento.

Inês Saldanha

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